quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A inveja vai te comer.


A inveja vai te comer

Por Toalá Carolina

Mas que sina esta minha
Encontrar sempre no caminho
Apenas gente mesquinha
Todas de sétima categoria

Mas que sina esta minha
Ser alvo de olhares maldosos
Comentários vazios
E de gente sem brio

Mas que sina esta minha
De comadres que se juntam
Para verdades inventar
Só porque lhes falta o que falar

Mas que sina esta minha
De quererem sempre competição
Ridícula, sem propósito e noção
De quem está sempre suja a mão

Mas que sina esta minha
De deparar-me sempre com jovens velhas
Que fizeram terríveis escolhas
E que só vivem dentro de suas bolhas

Que culpa tenho de saber viver
Por ler, saber, escrever
Saia da sua bolha
Cresça, estude e vá ser
Porque a inveja está prestes a te comer.

domingo, 23 de agosto de 2009

Pequena Paulistana, grandes confusões I


Pequena Paulistana, grandes confusões I

Manhã gelada de agosto, um céu cinza, digno de São Paulo, alguma coisa perto das dez e alguns minutos.

Tento ligar o chuveiro, que parece brincar comigo, não esquenta. Aquecimento central antigo, ligo e desligo umas seis vezes, até que decide pegar, no tranco. Faz muito vapor. Prendo meu cabelo que está na cintura, num coque alto, afim que não molhe, não estou com vontade de secá-lo.

Volto e vejo se a internet voltou.

As luzes do modem permanecem apagadas, penso que depois do banho, com um pouco de sorte, elas voltem a acender, assim poderei ler meus emails.

Rezo meu Pai-Nosso embaixo da cascata generosa de água muito quente, parece-me mais eficaz rezar enquanto a água me limpa, sei lá o porquê.

Reparo que tem três sabonetes aberto no Box, eu lembro que eu mesma os abri, canso dos cheiros rapidinho, enjôo, vai irritando, assim abro um atrás do outro.

Me troco, passo um blush para dar uma cor em meio a todo o cinza do dia, visto um cashmire verde água para colocar cor e me destacar em meio a movimentação frenética vestida de preto e grafite, da Avenida Paulista. Deus me livre fazer parte dessa ópera negra – penso.

Entro no elevador, leio mais um comunicado do sindico. Este agora intitulado de “POIBIÇÃO de fumar nas aeras comuns do prédio”. Sim, POIBIÇÃO. Será que essa mula não revisa os textos antes de divulgar?

Me irrita, e planejo vingança. Anos a fio tendo que ler suas “poibições”, sem nada fazer. Decido que é hora, e sem temer o olho da câmera de vigilância, praticamente assinando o meu pequeno delito, pego minha caneta na bolsa e faço a correção ortográfica:“PROIBIÇÃO”. Pronto, ele que engula essa. Ora.

Já no Hall, encontro o próprio homicida da língua portuguesa, e dissimulada que sou, cumprimento-o antes de nos tornamos inimigos oficiais.

- Oi seu Ângelo. – sorrio apenas com o lado esquerdo da boca, maldosamente.

Tudo é muito artificial, programado.

Dobro a esquina e deparo-me com os mesmos personagens em seus cotidianos enfadonhos.

A senhora de setenta anos que dá em cima dos porteiros, levando pedaços de tortas quentinhas, saídas do forno de seu fogão vermelho, de 1982, vestida apenas com um hobie de seda preto, que imagino que usara em sua noite de núpcias. Um rapaz de duzentos quilos, no mínimo, que leva seu pitbull não menos obeso, amordaçado. Um homem de meia idade que compra caquis no caminhão de frutas, que anda como um pingüim, por ter uma perna curta e outra longa, com cabelos desgrenhados, grisalhos, como os de Eisntein. Este eu desconfio ser meu anjo da guarda, pois mesmo sendo portador de deficiência física, encontro-o em todos os lugares. Acho que quando posso vê-lo, ele disfarça simulando fazer compras. Ele também me olha feio, mas acho que tudo isso faz parte da encenação, para que eu ache que ele não é, quem eu penso que é.

Sigo.

Olhaaaa, lá na frente vai meu ídolo! Um pai novo, magrelo, de cabelos encaracolados e altos, que anda com as calças jeans caídas, porque não usa cinto. Ele leva suas filhas de três anos, uma em cada lado das mãos. Elas são gêmeas idênticas, moreninhas e de cabelos cortados bem acima dos ombros, e cada um delas leva pesadas mochilas de rodas, ambas lilases. O pai cantarola uma música da Marisa Monte, do CD Cor de Rosa e Carvão, “Alta Noite”, e caminha: ...alta noite já se ia, ninguém na estrada andava... no caminho que ninguém caminha, alta noite já se ia... ninguém com os pés na água...

Sigo saudosa de momentos que não tive com meu pai, uma saudade do que nunca vivi.

Fico minutos parada de um lado da Brigadeiro, esperando os dois sinais fecharem, e escondida atrás dos meus enormes óculos escuros, sinto-me a vontade para espionar quem está do meu lado, e quem aguarda do lado oposto. Todo mundo está com pressa, ansioso para que o sinal feche logo, ninguém se olha, ninguém se vê.

Atravesso em meio a multidão acinzentada, encontro abrigo na minha cafeteria onde sou habitué, meu avô já tomava café ali, enquanto vivo.

Está lotada, todo mundo precisa de um café quente para sobreviver a São Paulo e seus respectivos empregos infelizes. Café é um antídoto para o paulistano.

Acomodo-me numa mesinha alta, de frente para a rua, onde posso observar um morador de rua, chamado Marcelo e ariano do dia 24 de março. Ele hoje está mais louco que o normal, grita e está dentro de uma caixa de papelão, como se dirigisse. Ele buzina e arrasta a caixa com o próprio corpo no sentido dos carros. Acho triste.

Chega meu café, eu nem preciso mais pedir para a atendente o que eu quero, ela já sabe. Uma média expressa, escurinha, cheia de espuma e bem quente.

Abro meu livro na página 99. Leio “O Castelo de Vidro” de Jeannette Walls, biografia.

Enquanto queimo minha língua na bebida, entro no mundo de Jeannette, não ouço mais os berros de Marcelo, nem o blábláblá inaudível do café, muito menos o vaporizador da máquina do café. Estou em outro lugar.

Finalmente o café está no fim, só tem o pó no fundo da xícara, viro tudo afim que não sobre nenhum grão estimulante. Estou na página 112. Fecho livro. Pago a conta. Faço o caminho de volta. Droga, está garoando.

Caminho mais lentamente e estou mais quente e disposta por causa do café, estou pensando em como Jeannette pode hoje ser feliz, sendo que um dia precisou comer margarina com açúcar para ludibriar a fome.

Quando dou por mim, estou andando atrás da mulher que maquiou minha mãe para casar, em 1975. Ela trabalha no mesmo salão de cabeleireiro, usa o mesmo penteado.

Curioso andar atrás dela, eu nem existia quando ela maquiou e penteou a minha mãe, para casar com meu pai... Tudo começou ali, agora eu estou aqui.

Ela pára quando encontra uma senhora bem idosa, eu passo entre as duas, mas dá tempo de ouvir a conversa:

-Nossa! Como o cabelo da senhora cresceu! – Ela finge espanto.

Nada de especial, elas falam sobre cabelo.

Sinto que preciso ler mais, quero saber o que o pai de Jeannette fez para salvar sua família da fome.

Vou ler. Vou escrever. Vou experimentar margarina com açúcar.

...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Entre livros, espressos e impressões.


Entre livros, espressos e impressões.

Por Toalá Carolina

Curioso. É curioso ouvir relatos de pessoas infelizes.

Ainda me choco com inteligências curtas, com visões limitadas, com a falta de tato.

Ainda me curvo à inteligência livre, com espíritos grandes e sorvetes coloridos.

Honestamente, para mim, é bastante interessante ver como Deus agracia um número inexpressível de pessoas com um grau a mais de entendimento.

Sim, claro que sei que ninguém nasce pronto, nascemos miseráveis, banguelos, carecas, pelados e sem um Visa, nem de débito. Mas, ao longo dessa maluca viagem, aprendemos com erros, acertos e experiências alheias.

Fico absolutamente entediada em rodas de conversas imbecis, que rodeiam apenas os seus cotidianos igualmente imbecis. Já pensei que posso ser uma espécie de alien, um Alf, com minha espacionave quebrada, dormindo na garagem e tentando comer o gato da familia que me acolheu.

E o que aconteceu?

Aconteceu que muito cedo descobri as biografias. As biografias, segundo um comentário do The NY Times, são os contos de fadas modernos, onde ensina-se amar e odiar nossas bruxas.

Mais tarde descobri o café.

Muito muito muto mais tarde descobri o espresso*. Sou maluca pelas versões "Hard" dos sabores.

Fiquei maravilhada quando descobri que há salvação. E depois aprendi a somar as pessoas, livros, café, fotografia, documentários... Não posso e nem tenho o direito de ser infeliz tendo juventude, saúde, uma beleza criada por mim, totalmente artificial, mas que eu, quando bem maquiada e bem vestida, me sinto bastante confortável.

Vejo muitos que têm tudo, e ao mesmo tempo, não têm nada.

Vejo um planeta que deveria substituir seu nome, de Planeta Terra, para "Planeta, teu nome é hipocrisia". Dei-me conta que hipocrisia tem mais que terra e agua salgada.

Fico muito de saco cheio quando rodeada por pessoas medíocres, na maioria abaixo da mediocridade, tenho que dar de ombros, ou de bocas, de caras, simulando concordância ou não com suas bestices intermináveis.

E por ser assim, bolei “truques para aliviar a dor”.

Como?

Lendo. Dando-me conta. Descobrindo. Degustando. Odiando e amando.

Como posso ser infeliz se amanhã meu amor, meus livros e meu café estarão esperando que eu ame, leia e os tome?

Ora, tenho compromisso com a tal felicidade.

E você, o que descobrirá hoje?

*espresso - do italiano caffè espresso, freqüentemente referido como expresso.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009


Esconde-Esconde

Por Toalá Carolina

Para quem me lê, gostaria de dizer que descobri muitas coisas nestes dias, coisas que parecem meio óbvias, mas não costumamos parar para pensar elevadamente sobre elas.

Não existe brincadeira desrespeitosa. Não existe alcunha sem maldade.

Não existe caráter em quem fala pelas costas. Não existe decência moral num beijo na testa de quem apunhala.

Não existe beleza em mentira. Não existe integridade em inveja.

Não existe talento na ociosidade absoluta. Não existe relacionamento onde só vivem as aparências.

Não existe cultura onde mora a ignorância. Não existe português pra quem não lê.

Não existe incômodo pra quem abre um livro, o incômodo é de quem não abre.

Não existe inveja de conhecimento, o que existe é a preguiça de estudar.

Não existe elegância, onde mora a baixaria. Muito menos diálogo, onde mora o pré-julgamento irresponsável.

Não existe sex appeal onde a alma não mora. Não existe tesão no corpo de uma megera.

Não existe luxo, em meio ao lixo. Não exitite apoio pra maldade.

Não existe personalidade em quem vive em uma auto-disputa, não existe vida em quem deseja a morte de um ente.

Não existe carinho em quem não chora ao ver sofrer. Não existe amor em quem não acredita.

Não existe luz em quem só fala nela, mas vive nas trevas. Não existe coerência onde mora a falsidade.

Não existe graça em piada burra. Não existe piada com a desgraça alheia.

Deus, é, nada mais e nada menos que a hereditariedade Dele dentro de cada um de nós seres humanos, e o Demônio, nada mais é que a porção de maldade que também todos nós temos.

Por fim, não há veneno sem antídoto. O antídoto é o desprezo absoluto.

Se sua porção maldosa é a que mais se eleva, ora, Deus mora menos, sobra muito menos espaço pra Ele agir.

Não basta esquentar banco de igreja se as atitudes da porta para fora são atos de terrorismo, nem usar cabelo arrastando no chão, nem viver de saia. Isso tem nome, chama-se atuação.

A união da boa porção de todos é chamada: Deus, é chamada paz.

A união da má porção de todos é chamada pelos ignorantes de Satanás. Ou seja, você é seu próprio Deus e seu próprio Demônio. Nunca percebeu isso? Você vive no seu céu, ou vive no inferno que mesmo cria.

E por que será que o mundo está da maneira que está? E a sua vida? Não é simples?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Criando um Mito


Ando realmente impressionada com pessoas que criam mitos, mistificam outras coisas e pessoas que nada possuem, graça, beleza, inteligência, sexy apple, o famoso "borógódó", tudo isso é inexistente e mesmo assim... BUUMMMM Torna-se um mito.
Como isso acontece?
Receita:
Pegue um toco de madeira, o que ele é? Um toco de madeira.
Coloque nele suas expectativas, não acredite em si mesmo, mas, acredite no toco, mesmo sendo um toco, ele é melhor do que você. Vista-o, cubra de ouro, graveje diamantes, venere-o, tema suas reações, crie uma relação com aquele toco, a quem você depositou absolutamente tudo. Olhe novamente... Como este toco agora está valioso... Até ele está acreditando que vale, que É.
Porém afaste-se dele, olhe... reflita.
O que está vendo? Um mito? Um ser poderoso, autosuficiente?

Não... é ainda um toco. Criado... por... você!!!
Tudo aquilo que você acha valioso e lindo nele, é teu, você quem o criou. O que ele seria se você não tivesse encontrado no meio do seu caminho? Um nada, certo?
Pois queridos... é o que ele é!!!!!! NADA.
Chegue bem pertinho e tire as roupas, o ouro, os diamantes, as crenças, o temor, o apego.
Olhe novamente.
Pois é... você criou um mito.
Pense com quantas pessoas já fez isso, ou se esta fazendo no momento.
A hora de parar é agora, antes que o toco acredite em você!!!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009


Natanael (parte I)

Passando pelo viaduto da Beneficência Portuguesa, num dia de verão muito quente e sentindo aquela irritação costumeira que o sol batendo numa blusinha preta, fui caminhando com uma desatenção flutuante, como se passasse por um caminho de terra batida entre o roçar e o cheiro inebriante do capim-gordura. Que nada. Passava entre pessoas que, apressadas e atrasadas como todo bom paulistano, se davam de ombros uns contra os outros e sussurrando pedidos de desculpas para cada encontrão. Camelôs que se espremiam e disputavam os poucos centímetros de calçada, entre os pedestres e suas bancadas de produtos ilegais e sucos de laranja, café e bolinho de chuva. Alguns enfermeiros que, impecavelmente vestidos de branco da cabeça aos pés, eu suas sacolinhas com o almoço, engoliam a mistura de café com leite, servido em copo descartável, a tempo de trocar o plantão. A manhã era frenética.

Olhando o transito na Avenida 23 de Maio, os carros indo e vindo, quase tropeço em um homem que estava sentado com as costas encostadas na grade, com o olhar perdido entre o cenário que nos cercava e uma barraca de tapioca doce, com uma de suas pernas envolta em parafusos, grades e toda uma estrutura de aço cirúrgico, jazia uma perna praticamente perdida e gangrenada, que ele expunha como se orgulho tivesse, ao sol, aos olhos de quem tivesse apenas que olhar para o chão encardido.

Aquele olhar não ficou indiferente a mim, nem sua perna que estava praticamente em estado de putrefação, colada em um corpo ainda vivia.

Postei-me frente à este homem, que olhando bem sem meus óculos escuros obrigatórios, e perguntei se já havia comigo alguma coisa.

Ele disse que sim, havia comigo uma tapioca que o dono da barraca havia lhe vendido pela metade do preço, uma tapioca de leite-condensado.

Curiosa em saber quem era aquela alma que morava naquele infeliz corpo, perguntei seu nome. Natanael.

Natanael é de estatura mediana, pardo ou encardido, na consegui definir a tonalidade de sua pele devido à fuligem dos carros, feições de índio, cabelo desgrenhado castanho escuro, vestia camiseta e bermuda, a fim de mostrar seu infortúnio para quem sabe assim, fazer algum dinheiro.

Agachei diante de Natanael para conhecer sua história, e porque havia parado ali, o que acontecera à sua perna e quando ele tiraria aquela ferragem...

Natanael contou-me que tinha somente 32 anos, apesar de parecer um pouco mais velho, devido talvez ao sofrimento experimentado nos últimos anos na fria e péssima anfitriã Cidade de São Paulo. Imigrava do Nordeste do Brasil, Crato, cidade do interior do Ceará, para tentar vencer na vida na grande metrópole, e voltar vitorioso e falando: “Meuuuu”!

Chegou aqui com uma mala que fora de seu avô, duas sacolas e muitos sonhos. Sem destino certo, sem emprego em vista, sem lenço, porque um cabra nordestinho não chora, mas com documento.

Acabou indo se hospedar na casa de um amigo de seu vizinho na sua cidade natal, Natanael seguiu até o bairro periférico de Guainazes, onde tomou um banho depois de quase cinco dias dentro de um ônibus convencional e mal pode pregar seus olhos, sonhando acordado.

As cinco da manha estava desperto e saiu para procurar emprego, e espantosamente a sorte estava com ele naquele dia, com seguiu uma colocação como auxiliar de pedreiro numa construção ali por perto, o dia e a vida pareciam ganhas e Natanael acreditou um pouco mais em Deus.