quinta-feira, 22 de julho de 2010

Casa de ferreiro... armário bagunçado.


São nove e treze da manhã, acabei de abrir meus olhos. Um raio de luz escapa da vedação da janela, intrometido que é, e faz doer minha retina. Levanto e não há nada que me impeça hoje de voltar para minha musculação.
Não? Sim, há.
Vejo que já não tenho roupas limpas porque a máquina de lavar foi entregue ontem de forma que sabão em pó e amaciante não moram na minha lavanderia, ainda. Preciso busca-los no supermercado. "Que preguiça de levantar e encarar a cidade..." - diria Orlando Moraes.
Sendo assim, o que vestir para me apresentar ao "dia"? Minha avó me ensinou que jamais deveria sentar-me a mesa do café da manhã sem estar de banho tomado, impecavelmente penteadae vestida. O-ou... aqui tenho um par de meias que não são minhas, mas cheiram a Confort, uma camiseta do Mickey e uma...humm, calcinha que só-por-Deus, onde eu estava com a cabeça pra comprar isso? Metade de mim é uma atriz pornô, outra criança na Disney e emabaixo uma retardada. Pra completar faço duas tranças, uma de cada lado e - Vovó, estou pronta! (penso, pois vovó JAZZ faz tempo)
A máquina de café já fez o trabalho dela e vou dizer que esta tem sido mais eficiente que minha mega ultra máquina de café espesso, porque contrariando todos os manuais, o café EXPRESSO é aquele que sai mais rápido, e ela ganha. Minha pretinha de coador de papel é esperta como toda boa malandra, corre na frente e ganha um.
Tá, não sou ninguém sem um café com leite bem quente e extra forte. Quando os primeiros goles descem pela minha boca meu corpo inteiro arrepia, é imediata a sensação que a cafeína proporciona. Meu espírito está de volta nos meus 50k de osso e carne.
Ahh, agora sou eu, acordei. Abro meu netbook, o qual nunca dou "shut down", coloco-o apenas para dormir.
Abro os emails, jornais, facebook, twitter, orkut e MSN, nesta ordem, vou processando café, informações importantes, cotações, tufões, assassinatos, piadas, scraps, blogs de unhas, poesias, citações...
Abro meu MSN e já de cara muitas janelas se abrem, automaticamente, de mensagens offline deixadas na madrugada, na manhazinha, coisas que aconteceram enquanto eu dormia, penso que perco muito tempo dormindo e neste meio tempo as pessoas já sofreram todos esses dramas. Uau.
Acabo sendo uma espécie de psicologa virtual, conselheira, organizo e dou um jeito de arrumar a vida das pessoas enquanto meu armário está uma verdadeira zona. Quando percebo já acalmei todo mundo, dei uma solução, analisei e cheguei a conclusões pertinentes, e meu armário está bagunçado.
Penso em mim como Holly Golightly (Audrey Hepburn) em Breakfast at Tiffany's, quando o par romântico dela, o fictício escritor Paul Varjak (George Peppard) chega no apartamento dela e percebendo uma certa zona na sala a questiona:
- Também mudou-se a pouco tempo?
Holly naturalmente responde:
-Não querido, estou aqui há mais de um ano. (e procura o telefone que está dentro de uma mala de viagens). Sou um pouco Holly. Não, pensando bem, sou muito Holly.
No final das contas está tudo muito bem, porque quando chega as dezoito e trinta e três eu, no crepúsculo, percebo que sou extremamente feliz e tenho uma garrafa de Chandon na geladeira esperando ser aberta quando os cupins de asas que anunciam a primavera finalmente chegarem trazendo os ventos quentes.
Dou risada, não deveria, mas dou e meu armário está pacientemente esperando que eu tenha tempo para ele, e nada poderia estar mais certo que tudo isso, afinal, meu lar é onde estão os meus sapatos e eles estão aqui.