quinta-feira, 31 de maio de 2012

Verônica (parte I) O ano é 1998. Faz frio, muito frio. Estou debaixo de quatro cobertas, com três meias calças fio 80, e coloquei uma por cima da outra porque todas estão rasgadas de alguma forma, e assim não se percebe nada. Não que eu vá sair, não é isso, é que o frio está desesperador. É agosto e alto inverno. Tudo dói, todo meu corpo, mas o coração dói bem mais. Olho de forma obsessiva para o telefone pendurado na parede do meu quarto, ele é vermelho e tem um adesivo holográfico do Mickey, a cola já está saindo, então fico olahndo até ficar vesga. Ele não toca mais e quando toca é para meu avô ou para minha mãe e muitas vezes é engano. Impressionante a quantidade de ligações com algum engano quando você está esperando um telefonema importante. Detesto. Em frente a minha cama de solteiro, com o estrado quebrado que sempre tenho que recolocar senão durmo num buraco (as vezes me sinto protegida nele), tem um sofá cama verdinho, onde coloco cuidadosamente meus bichinhos de pelúcia, um a um, do maior para o menor, que coleciono desde dos meus seis anos. Todos são importântes, todos têm seus lugares no sofá e em mim. Não faço qualquer esforço para me livar deles e isso nos auge dos meus vinte e dois anos. Meu nome é Branca, e tenho esse nome devido a uma namorada que meu pai teve na França. Segundo ele, era uma deusa. Levanto para mudar o canal, onde um pastor unge e berra, ele pede para ligar e colocar o nome para a oração das duas da manhã, ele fará ua oração e quem sabe Deus olhe para mim e me cure hoje. Ligo e deixo meu nome. A atendente pergunta se meu nome é realmente Branca e digo que sim. Soletro. B R A N C A, para que não haja dúvidas. Quero meu nome na oração apesar de estar com uma estrela wicca presa no mural de cortiça, com o nome dele dentro. O nome dele é Marcelo. Não só tem uma estrela wicca como uma vela com açucar e canela, cravejada de cravos que uma cigana que conheci no chat zaz me ensinou a fazer, pelo telefone. O nome dela é Magdalena, e ela me cobra R$1,99 por minuto para me dizer que ele voltará, e se não voltar pegará uma doença de pele. Não quero a doença, quero que ele volte.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Anti-reza

Alguns torcem para eu engordar
Alguns querem me amar
Alguns torcer para eu falhar
Alguns torcem para eu ganhar

Alguns torcem para eu chorar
Alguns rezam para terminar
Alguns fingem de mim gostar
Alguns me roubam para eu me decepcionar

Alguns sabotam nossas vidas
Alguns disputam suas filhas
Alguns falam através de insinuações
Ah, esses são cheio das "razões"

Algumas traem seus maridos
Alguns falam dos vizinhos
Na verdade fazem pior
E criticam o melhor

Qual a graça de roubar?
Qual a graça de em seguida acusar?
Qual a graça de disputar?
O que nem é teu, pode parar!!

Acham que não nos contam?
Acham que não sabemos?
Acham que não oramos?
Acham que disso gostamos?

Todo mundo tem dois olhos
Todo mundo tem dois ouvidos
Todo mundo tem uma boca
Mas inteligência ali é pouca.

Alguns podem não acreditar
No que eu tenho pra contar
Mas, meu caro, pode apostar
Essa anti-reza não vai funcionar.



Os olhos de Sônia Há quinze anos espero um perdão Espero o perdão de Sônia Vi seus olhos numa foto Que saudades do seu colo... Escrevi uma carta te contando o que passava Dobrei em três e guardei na bolsa Sem coragem de entregar, eu fui uma tonta! Até seu doce de abóbora eu gostei porque com ele do seu carinho provei tinha amor naquele doce ah! Se pra sempre fosse... Fiquei olhando pra foto seus olhos são lavanda... como nunca reparei? acho que eu era tão criança... Sônia é armênia pele rosa, toda bela é uma mamuska russa eu queria sair de dentro dela Sonia vestiu a meia preta fazia frio, era inverno ela me devolveu em casa queri ficar, ouvir o relogio que lá tocava Um conselho ela me deu um que maias esqueci Toalá, nao abaixe nunca a cabeça Dona Sônia, eu jamais esqueci! O que fiz não tem perdão? Mesmo pedindo de todo coração? Tudo bem, eu espero outra vida ainda esperarei, amor nao finda.